Tem vezes que, quando a gente menos espera, a vida nos brinda com pequenos prazeres. As coisas boas, quando resolvem acontecer, não dão um pedala na nossa cabeça pra gente se tocar, elas simplesmente se revelam como pequenos prazeres depois de acontecerem. Semana passada eu tive dois desses “momentos”.
Eu estive em contato a semana inteira com o meu amigo Jeff Angell. Ele já liderou a banda Post Stardom Depression, e atualmente está à frente da Missionary Position (N.T.: Missionary Position em português é a posição sexual conhecida como papai-e-mamãe”). É sempre muito legal estar com um cara com o talento do Jeff. Além do quê, nós temos muito em comum:
- somos músicos
- somos pais de duas meninas
- somos do noroeste dos EUA
- somos fãs do Prince
Quando o Jeff me contou que a banda dele, a Missionary Position, iria tocar na sexta-feira em Georgetown, eu percebi uma excelente oportunidade de tirar um tempo pra fazer “coisa de homem” e sair um pouco da minha casa tão feminina. Além do quê, o show ia ser em Georgetown, e já fazia um tempinho que eu não ia lá.
Aos que me lêem e não sabem muito sobre Georgetown, eu aviso que na verdade os moradores adoram que você não saiba nada. É um bairro escondido e livre de comércios. Trata-se de uma espécie de meca das artes, café, pizza, boa cerveja (é o que dizem), e motos. Mas não qualquer moto!
O Clube de motos Dead Babe, uma “organização” formada a partir dos motociclistas que formam a parte saudável da comunidade de motoboys de Seattle, realiza um evento todo mês de agosto em Georgetown, chamado Dead Baby Downhill. É uma corrida de motos hilária, cujo circuito agora termina perto do campo da Boeing. A corrida é seguida da “Maior Festa já conhecida pela Humanidade”, organizada pelo Clube de Motos Dead Babe.
Eis que o show do Missionary Position seria apenas mais um dos vários que aconteceriam nessa noite. As bandas Dyslexic 33, Plaster e Horse Headall também estavam programadas pra tocar após o fim da Dead Baby Downhill. Tudo sem a presença ostensiva da polícia de Seattle.
Aparentemente, a corrida seguida de festa pelas ruas de Georgetown são um evento não-autorizado pela prefeitura. Pelo que deu pra entender naquela noite, os cidadãos ou baderneiros de Georgetown – e a polícia local – não chegaram a um acordo sobre um esquema para realizar a DBDH. A polícia queria mais segurança (consequentemente, menos diversão). O pessoal da Dead Baby queria menos segurança (consequentemente, mais diversão?)
De alguma forma – e não me perguntem como – o bairro de Georgetown e a cidade concordaram que grande parte da responsabilidade da segurança do evento ficaria a cargo do pessoal uniformizado do Clube Dead Baby.
A ausência da polícia em qualquer outra situação poderia significar confusão. Por isso mesmo, numa noite com cerveja de graça em barris e duelos de motos sem capacetes ou escudos, era difícil não notar que a polícia estava por perto. Mas eis o que aconteceu: não havia o menor sinal de violência no ar, nem o menor indício de ameaça de briga, ou qualquer idiota se mostrando idiota em público. As pessoas pareciam menos limitadas e acorrentadas, mas ao mesmo tempo mais responsáveis e calmas, pelo simples fato de não haver policiais ostentando a força e a presença. Foi um momento de pura diversão.
Não posso dizer, nem pensaria em recomendar que todos os eventos ao ar livre em Seattle deveriam ocorrer sem a presença ostensiva da polícia. Mas em Georgetown, pelo visto esse esquema funcionou pianinho naquela noite.
Os quarto palcos diferentes apresentavam todo tipo de rock, punk rock, DJs e outros tipos de música. Quando eu finalmente consegui encontrar o palco em que a banda do Jeff Angell iria tocar, eu tive a grata surpresa de ver a Brothers of the Sonic Cloth, nova banda do Tad Boyle, tocando rock dos bons. Que delícia descobrir isso! Só em Seattle, né?
Enquanto eu esperava pela Missionary Position, ficou evidente que as pessoas à minha frente ainda se deslocavam. O que eu pensava que fosse um grupinho de espectadores dos Brothers of the Sonic Cloth revelou-se uma fila pra pegar cerveja (aquela, de graça em barris). Essa coisa de cerveja de graça desse evento ao ar livre é uma forma de manter o evento mais como uma “festa” aos olhos da cidade, e menos um evento comercial. Se fosse uma festa fechada, então os policiais não seriam necessariamente convidados. Aaaaahhhh, agora entendi!
E infelizmente, eu esperei mas não aguentei ficar pro show da banda do Jeff. Havia muitas outras bandas tocando antes, e os meus olhos começaram a ficar pesados. Toda a agitação do dia começava a me cansar. Pô, eu acordo cedo! Prometo assistir à Missionary Position da próxima vez que eles vierem aqui – se o show não for muito tarde.
Essa coluna meio que viaja um pouco, né? Pois lá vem outro ponto de viagem: eu me encontrei com o escritor e músico John Roderick no Slayer, na noite seguinte, e nós descobrimos que de alguma forma somos aparentados. Ele também é irmão do sogro do meu sobrinho. Imagine só!
Como eu disse, a semana esteve repleta de pequenos prazeres.
Tradução : Letícia Sallorenzo
Postado em: SeattleWeekly
