Walking Papers é uma banda de quatro peças que faz contato com o estilo Texano de Blues cheio de grandes riffs hesitantes e uma obscuridade manhosa. Jeff Angell canta e toca guitarra, Barrett Martin está na bateria, Duff Mckagan toca baixo, e Benjamin Anderson equilibra tudo nos teclados. Há algo sinistro em seu som, e as letras de Angell apresentam personagens, enquanto estorias são contadas através das canções. Tudo se move livremente, aberto a interpretações. Cenas se criam - as botas de um fugitivo marcham por um beco ao anoitecer. O homem tem um ferimento por faca, e a perda de sangue está fazendo sua visão se esvair. Ele está tentando chegar em seu único amigo na cidade.
Martin tem sido um ativo musico de Seattle através dos anos, tocando o Screaming Trees, Mad Season, Skin Yard, Tuatara, e R.E.M. Além de ser musico e produto, ele comanda seu próprio selo, chamado Sunnyata Records. Ele tem formação em antropologia, etnomusicologia, e linguísticas, além de um livro que deve sair no próximo outono americano, sobre o modo como diferentes lugares encaixam a musica em sua cultura. Ele pode ser também o cara mais legal de todos os tempos.
Esta canção surgiu quando Jeff e eu estávamos fazendo uma jam com o riff e a base. Você não pode toca-la rápido, pois assim não terá a mesma cara. Mas então, bem no fim, ela acelera.
Vocês me fazem lembrar do ZZ Top antigo, e seu álbum Rio Grande Mud.
Nós adoramos muito o ZZ Top! Na verdade, nós abriremos para eles num festival na França. Jeff passa bastante tempo pensando nos tons de sua guitarra, e Billy Gibbons é famoso também por seus tons. Eu ainda não ouvi o novo disco do ZZ Top, mas Jeff já, e ele estava justamente me dizendo que os tons das guitarras são incriveis.
Como o Walking Papers se juntou? Qual foi o impeto? Quem estava por trás de tudo dizendo, "Hey caras, vamos tocar"?
Eu fiz a primeira ligação. Eu estava visitando New Mexico durante o verão. Eu tive uma cirurgião no tornozelo, pois meu meu medico estava lá -quebrei meu tornozelo cerca de 20 anos atrás durante uma turnê do Screaming Trees, e finalmente tive que fazer uma cirurgia radical para concerta-lo. Então eu estava basicamente curtindo o New Mexico com o gesso em minha perna, e comecei a pensar sabe, como eu gostaria de estar numa banda novamente. Eu tinha visto Jeff tocar com o Missionary Position algumas vezes, e eu adoro essa banda. Então eu liguei para ele e disse, "não estou tentando te tirar da sua banda ou algo do tipo, mas se você quiser montar um projeto, poderíamos escrever algumas canções e nos divertirmos.
Foi uma sugestão inocente. Era pra ser originalmente uma dupla - queria escrever canções e tocar vibrafone, marimba, contrabaixo clássico, e bateria, enquanto ele fazia as outras partes. Começamos a gravar cerca de um ano atrás, e nós fizemos toda parte básica das faixas em uma semana aqui em Seattle. Mas então nos demos conta de que queríamos trazer mais gente pra tocar algo especial. Nós tínhamos trabalhado com Duff no passado, então o chamamos para fazer algo no baixo. Então Ben Anderson veio para ficar com o teclado, e pegamos nossa banda de sopro do meu grupo de Jazz, para fazer as partes de sopro, e isso meio que virou uma banda no estúdio. Eu lancei o disco pelo meu selo. Eu tenho uma distribuição ótima -está aos poucos fazendo sua fama pelo mundo-, mas isso acabou recebendo mais atenção do que esperávamos. Nós tocamos apenas alguns shows. Fizemos duas turnês -uma pequena pela Europa, e uma pequena pela costa Oeste. Após isso, foram apenas shows locais pelo lado Pacifico Noroeste.
Vocês estão construindo uma "fundação" solida. Duff é um grande criador de hits, e Mike McCready está matador em suas faixas. Vocês são uma espécie de supergrupo.
Duff e eu conversamos sobre isso. Se você está construindo uma casa, você tem que começar pela lama, construir sua estrutura, e adicionar o cimento correto. De outro modo, sua construção ficara bamba. Nós deliberadamente fizemos shows em clubes, e estamos tocando em locais de tamanho ideal, que podemos encher ou até mesmo lotar. Acho que isso aos poucos faz com que a banda seja melhor ao vivo, e isso cria uma química que viemos desenvolvendo, e construindo -química que você não consegue apenas saindo e tentando tocar em lugares gigantes, em que ninguém aparece e te faz sentir um idiota.
Onde o Walking Papers fez a gravação do álbum?
Nós gravamos no Avast, em Greenwood. Eu amo aquele estúdio, estive trabalhando nele por 20 anos. Gravamos na sala grande, onde também gravei com o Mad Season. Fiz milhões de sessões com outras pessoas lá. Fizemos a mixagem no estúdio de Jack Endino, Soundhouse. O novo disco, começamos gravando no Joshua Tree, onde Josh Homme faz sessões. Gravei lá varias vezes. Fizemos duas canções lá durante nossa tour pela Costa Oeste, e então voltamos e fizemos uma sessão no Avast, na mesma sala grande. Estamos gravando aos poucos, conforme as canções vão ficando prontas.
O que o deserto trouxe ao Walking Papers?
A ideia dessa banda me veio no deserto de New Mexico, Santa Fe. Quando você grava no deserto, quando você compõe musica que foi concebida no deserto, geralmente você tem muito espaço, e tem uma especia de qualidade para a trilha sonora. O deserto é algo sobre procurar por si mesmo, pois você está nesse espaço aberto todo exposto. Tudo o que você tem é a si mesmo e a paisagem, e o único lugar para ir, é para dentro, ou para fora rumo ao abismo. É isso que eu amo sobre o deserto. Joshua Tree foi amado por Graham Parsons, e os Stones costumavam ir lá também; é realmente um lugar incrível.
O grande Jack Endino mixou o álbum. Como ele mixa? O que ele ouve? O que você aprendeu com ele?
Bem, Jack e eu estivemos trabalhando juntos por 25 anos. Ele produziu o single de minha primeira banda de punk rock, em 1987, chamada The Thin Men. Nós éramos uma banda punk enquanto todos faziam grunge. Então Jack me convidou para tocar em algumas de suas gravações, e eu acabei me unindo ao Skin Yard, que foi minha primeira banda de rock pra valer. Jack e eu estivemos produzindo discos juntos, e eu fiz sessões onde eu tocava nas coisas que ele vinha produzindo. E nós meio que desenvolvemos esse entendimento mutuo. Ele sabe o que eu gosto de ouvir quando é uma das minhas gravações. E eu sei o que ele quer esteticamente quando se fala de produzir um disco de rock.
Agora mesmo, estamos trabalhando no próximo disco do Walking Papers, e ele está gravando desde o começo. Nós basicamente tentamos captar os melhores sons que podemos de cada musico individualmente, e seus instrumentos. Estou falando um pouco demais sobre Jack, mas eu sei que a filosofia dele é conseguir a melhor performance que você pode extrair de uma banda. Não tente mudar e influenciar as coisas de modo que a banda não faria naturalmente. Acho que é o que ele fez durante toda sua carreira, capturar a magica da banda como ela é.
Qual a parte mais difícil nas gravações do Walking Papers?
Tempo. É uma canção rápida, uma lenta, uma meio-termo, o quão meio termo? Fazemos tudo ao vivo e tentando fazer perfeitamente -tocamos no estúdio assim como tocamos ao vivo, num palco. As gravações de cada pista é sempre uma parte intensa para mim como baterista.
Então qual o truque de Endino?
Eu diria que sabedoria pra saber qual tipo de amplificador cria certos sons, que tipo de microfones usar nesses amplificadores, e a que distancia coloca-los. Ah, e a guitarra usada neles, sabia? Se você colocar uma Les Paul num Marshall contra uma Les Paul num Fender Deluxe, ou se você quer usar um microfone especifico, ou um condensador - todas essas coisas diferentes para se pensar.
Quem está produzindo o novo álbum?
Mesma coisa, é uma co-produção entre nós e Jack.
Vocês sabem quando irão lança-lo?
Estaremos falando sobre isso provavelmente para o final deste ano, ou começo do próximo. Estamos apenas no nosso ritmo, sem pressa. E o primeiro disco ainda está crescendo -foi lançado em Outubro, então fazem apenas três meses.
Vocês terão algo do Mike McCready nesse novo disco?
Sim, com certeza. E Peter Buck. Ele toca violão em algumas partes- ele tem habilidades incríveis com o violão. O primeiro disco do Tuatara tem ambos com participações.
Espere, por quê o nome Walking Papers?
Barrett: Nós estávamos tentando chegar em algum nome e vários nomes estavam sendo cogitados. E eu comecei a coloca-los em um aplicativo no meu celular. Eu estava num show do Wilco no Paramount. Nós estávamos esperando o show começar e eu comecei a colocar alguns nomes no aplicativo e me veio o nome Walking Papers. Eu mandei uma mensagem para a banda, e eles diziam: " É isso ai, este é o nome.". O termo surgiu na Segunda Guerra Mundial, quando os soldados receberam a sua liberdade eles recebiam seus "Walking Papers" e podiam ir embora. Mas então tornou-se um termo para quem é demitido. E nós estivemos pensando, já estivemos em tantas bandas onde nos demos mal e fomos chutados ou rotulados recebendo nossos "Walking Papers".
As letras de "The Butcher" e "A Place Like This" conectam uma escuridão. Algo iminente. Jeff está falando sobre um fantasma. Em "The Butcher", alguem morre e fica lá por semanas.
Jeff escreve muitas dessas coisas baseado em experiências, ou aprendizado de coisas que aconteceram com ele, ou boatos que ouviu. Acho que a vaga e nebulosa qualidade permite que o ouvinte entenda como quiser entender. Pude trabalhar com grandes contadores de histórias, Mark Lanegan, Layne Staley, e até Michael Stipe, quando eu toquei com o R.E.M. Eles são grandes poetas e cantores. Eu queria que o Walking Papers tivesse essa qualidade. E Jeff soube controlar a situação. Ficamos surpreendidos quando começamos a receber as criticas pelo álbum, e elas diziam "é como Raymond Chandler escrevendo para uma banda de rock", ou David Lynch e Tom Waits. Gosto disto.
Sejamos sinceros, a escuridão é sexy.
Todas bandas em que estivemos, foram meio obscuras. A escuridão é parte da continuidade da luz -se você for demais para um canto, você estará envolto em trevas, se for demais para o outro canto, estará numa felicidade surreal.