Tradução da coluna
do Duff no Seattle Weekly (Reverb):
Duff McKagan (esquerda) é o baixista fundador
do Guns N’ Roses e colunista no Seattle Weekly. Jack White (direita) traz seu
lançamento solo (Blunderbuss) para Seattle, terça-feira 14 de agosto no waMu
Theater.
Ter a liberdade de
fazer o que você quer num empreendimento criativo sem o constrangimento e pressão
de sucessos comerciais mandados pode ser a mais livre e libertadora
experiência. Combinados com dons naturais e espírito orientado, um ambiente
emerge onde as coisas realmente grandes podem acontecer.
Steve Jobs é um ótimo exemplo disto.
Prince sempre fez o que quis, e fez muito bem.
Clint Eastwood sempre foi capaz de criar coisas a vontade, na tela
ou por trás das cameras.
John Lennon teve a liberdade de criar e recursos para tocar o que
ele quisesse.
Jack White é um destes caras.
A criatividade não conhece fronteiras com ele. E enquanto o
restante de nós pode achar que o cara não pode ficar parado (o que, oito
diferentes projetos de banda a última dúzia de anos?), ele tem sucesso em praticamente
tudo o que ele tem proporcionado ao libertar seu crescimento criativo.
Pense naquela bola de neve em desenho, que desce a montanha
e ficando cada vez maior e maior, ficando mais rápida, derrubando árvores como catapultas.
Jack White nos dias de hoje é o equivalente musical disto.
Sua criatividade desmarcada lhe permite fazer
coisas em registros - trancado longamente no estúdio com alguns dos melhores
músicos da Terra, apenas esperando para a criatividade para atacar? Uau! - que
poucas pessoas podem pagar. Caras como Jack White e Prince definem a barra do
que se torna padrão, mas eles estão sempre a um passo á frente.
A Era da Informação e a descartabilidade de
arquivos digitais tem feito as músicas novas parecerem tão transitórias. Você
tem que realmente ir a caça de um bom material atual, ou você simplesmente vai
voltar atrás e ouvir Zeppelin ou os Stones.
Blunderbuss, primeira aventura solo de
verdade de Jack White, é um daqueles discos que fazem você se sentir como se
estivesse na mesma sala com os músicos. Os sons e riffs são autênticos e
remontam um poucos de Levon Helm/ Band-ismos, soando atual e urgente ao mesmo
tempo.
Se você mergulhar nas escolhas de palavras,
esquemas de rima, e assunto presente nas letras de Blunderbuss, você encontrará
uma obscura e inteligente viagem na escuridão do amor encontrado, perdido, e
por fim eliminado. White diz que não gosta de se expor para escrever sobre si
mesmo, mas transforma as verdades universais da dor e ruína humana como
fundamento para jogar um pouco de raiva e emoção para fora. É só depois que uma
música é feita que Jack vê seus personagens claramente.
“O mais legal é que eu sempre acho que estou
escrevendo sobre um casal de personagens”, Jack me disse, “mas no final, estou
mixando a canção e ouvindo ela várias vezes e penso, ‘Oh, agora eu sei
exatamente sobre quem é essa canção. Eu
sou o único que vai saber disso’.”
White aderiu ao rank de Paul McCartney e Bruce
Springsteen como anomalias no jogo do rock-and-roll. Ele vende discos (e um
monte deles). Ele vende ingressos para shows (mais uma vez, aos montes). Ele
pode se dar ao luxo de excursionar com duas bandas completas (uma só de homens,
uma só de mulheres. Quê?), escolha diária do que vai tocar naquela noite. Ele
pode escolher com quem ele quer trabalhar, e essas pessoas aparentemente
agarram a chance (os Stones, Loretta Lynn, Jimmy Page, The Edge, etc.)
Nós precisamos de caras como White. Nós precisamos
de pessoas que mostrem a nós que você pode ser um indivíduo que se entrega aos
caprichos de seu espiríto criativo e ainda ser bem sucedido comercialmente.
Estourando os limites e vendendo discos faz com que as demais bandas e artistas
desviem e arrisquem, longe do que é seguro, familiar e popular – e isso é ótimo
para a música.
Jack White: Oi.
McKagan: Hey, Jack.
J: Hey.
D: É o Duff.
J: Hey, Duff, como
você está?
D: Bem, e você cara?
J: Ótimo. Nos encontramos uma vez num hotel em New York, eu acho.
D: Sim. Nós ficamos um
tempo enrolando por lá. Eu nunca fiz uma entrevista, mas já fui
entrevistado um milhão de vezes e você provavelmente também. Eles
pensaram que seria interessante se você e eu apenas conversassemos.
J: Yeah.
D: Eu realmente gostei muito de seu novo álbum. O som está
matador. Eu li as letras sem a música, que é algo que eu nem sempre faço, mas
eu nem sempre entrevisto alguém. Você pode me contar sobre o caminho que levou
você a esse álbum, liricamente falando?
J: Era uma tipo de diferentes
idéias escritas que eu estava tentando fazer todos os dias. Cada canção foi uma
maneira nova de escrever que eu jamais havia tentado antes. Eu escrevi
backwards [nota: músicas ou letras invertidas] e escrevendo com pessoas na
sala... Uma vez eu estava com todos os músicos na sessão e eles estavam
esperando por mim, e eu sentei no piano e eu absolutamente não tinha uma música
ao todo.
Eu me obriguei a
escrever uma canção na frente deles, sem que eles soubessem disso, e eu fui
tentando várias idéias como fazer as coisas realmente diferentes para mim,
porque eu não sabia o que eu estava fazendo até ter quatro ou cinco músicas, o
que isto seria. Eu não tinha planos de fazer esse, entre aspas, disco solo.
D: Há dor neste album. Muitas pessoas usam diferentes coisas para
ajudá-las a escrever música. Algumas vezes é a política, e as vezes a dor. A
dor do amor, a dor de um relacionamento. Houve um tema aqui que se alinhasse
com o álbum?
J: Eu sempre achei
meio chato escrever sobre mim mesmo. Mas o que quer que aconteça com você, se
você já passou por qualquer coisa – tipo um literal acidente de trem em sua
vida, por exemplo – você tem isto dentro de si de alguma forma; mesmo se você
escolher não escrever sobre estar envolvido em um acidente de trem, isto viria
de você não importando qual escolha você faça. Assim qualquer personagem que eu
esteja escrevendo durante a gravação, eu estou dando a eles estes problemas.
Mas os problemas são as únicas coisas que eu provavelmente vi ou experimentei
alguma vez ao longo do caminho.
O mais
legal é que eu sempre acho que estou escrevendo sobre um casal de personagens”,
Jack me disse, “mas no final, estou mixando a canção e ouvindo ela várias vezes
e penso, ‘Oh, agora eu sei exatamente sobre quem é essa canção. Eu sou o único
que vai saber disso’. É muito engraçado.
D: Eu contei pra Brian Ray, da banda do Paul
McCartney, que eu ia entrevistar Jack, e o que eu posso dizer, ele trouxe à
tona uma coisa muito interessante. Ele disse que vocês dois estavam conversando
em algum momento, e você era um fã de Hunt Sales e da velha banda de Iggy,
aquela banda da era Berlin de Iggy. Você é um fã de Hunt?
J: Hunt é incrível.
D: Como foi que você chegou até ele?
J: Eu tinha visto uma
filmagem antiga de Iggy Pop quando comecei a ouvir os Stooges, e então comecei
a me inteirar sobre a música solo de Iggy Pop e vi uma filmagem de sua seção rítmica,
e eu achei que eles estavam tocando incrivelmente e pareciam ser bem legais. Eu
não sabia quem eles eram, e alguém me disse que eles eram filhos de Soupy
Sales.
Em Detroit, Soupy
Sales era uma estrela tão famosa. Foi uma coisa incrível de se ouvir, como um
nativo de Detroit, que eles eram [filhos] de Soupy Sales. Foi ainda mais atraente
e eu comecei a ler mais sobre eles e aprender mais sobre o que eles estavam
fazendo. Hunt foi um punk rocker 10 anos antes do punk. Eu amo seu estilo de
tocar bateria também.
D: Você está excursionando com duas bandas diferentes. É como uma
espécie de formação dos sonhos – ter uma banda diferente a cada noite.
J: Sim. Bem, eu só
estava tentando pensar em maneiras de quebrar as coisas pra mim, porque muitas
vezes você vê alguém que você conhece de uma banda e eles tocam sob seu próprio
nome e eles apenas tem que encontrar quatro ou cinco pessoas para ficarem atrás
deles e tocarem as canções de seus velhos álbuns, e isto é uma viagem de
nostalgia, e eu realmente não quero fazer uma coisa dessa. E muitas das coisas –
se é uma música do White Stripes por exemplo, que as pessoas estão ouvindo, eu
não quero recriar alguma coisa que uma banda de dois membros fizeram com seis outras
pessoas de forma mediana, superficial ou nostálgica. Então esta é uma maneira
de agitar as coisas para mim, que realmente fique vivo no palco e não apenas
tentando recriar um momento de 10 anos atrás.
Além disso, as minhas
novas músicas foram feitas com estes novos músicos, então isso foi a parte de
sorte. Eu poderia ter todos eles comigo na estrada. É muito caro, mas estou
recebendo muito por isso.
D: Você tem uma maneira normal de escrever riffs e beds musicais
para suas canções?
J: Este um foi muito
acidental. Nós temos uma canção no álbum chamada “16 Saltines” e o riff foi
[escrito enquanto] tipo checando a unidade de reverb e vendo o quanto o reverb
iria durar. Eu disse para gravar isto realmente rápido e nós voltaríamos a ele
mais tarde.
Estas coisas não
teriam acontecido anos atrás no estúdio. Eu costumava realmente me forçar e ir
lá como, oh, um álbum do White Stripes ou Raconteurs, nós temos que gravar
isto, e nós temos oito dias para fazer isto, e nós vamos fazê-lo por apenas U$5.000
e tinha todas essas limitações a mim mesmo. Mas agora eu tenho meu próprio estúdio,
eu posso aproveitar as coisas agora – na verdade, gravar alguma coisa, viajar e
voltar na gravação. Eu nunca teria feito algo assim
nos dias passados.
D: Você se lembra de tudo que tem quando você tem todos aqueles
acidentes felizes?
J: Sim, eu costumava
deixá-los ir em frente, ou dizer “Oh, apenas vá”. Eu disse que de agora em
diante eu não vou fazer mais isso, e eu também fiz uma regra pra mim mesmo que
quando eu acordar no meio da noite e ter a idéia de alguma melodia chegando...
eu digo pra mim escrevê-las – que é provavelmente a coisa mais difícil que fiz,
escrever algo as 4 horas da manhã. Canções do álbum que surgiram assim – “Hip
(Eponymous) Poor Boys” surgiu disto, as 4 da manhã, me forçando a escrever a
melodia e algumas palavras.
D: Como você começou a fazer a gravação de Wanda
Jackson?
J: Eu vinha produzindo
um monte de 45s para a Third Man Record nos últimos três anos, e ela me chamou.
Mas ela queria fazer um daqueles álbuns que eu nunca tinha feito, que é aqueles
em que cada canção tem um dueto com outra pessoa ou colaboração. E eu disse:
“Bem, você sabe, eu realmente não sei que compra esses álbuns, Wanda, e talvez
isso funcione com o Santana uma vez ou outra, mas eu não sei se isso funciona
pra todo mundo”. E eu disse: “Por que não fazemos apenas um single, fazendo um
45, e se alguma coisa acontecer, algo nos inspirar, e nós precisarmos de mais músicas,
nós faremos isto.”
Nós fizemos aquela
faixa com Amy Whinehouse, e isto foi ótimo e nós finalizamos cerca de seis músicas
no primeiro dia – eu disse “Wanda, por que não fazemos um álbum completo e
completamos isto”, e ela realmente estava pronta pra isso. Eu adquiri muita
experiência trabalhando com septuagenários. Funcionou bem.
D: Você é um fã de Mark Lanegan?
J: Sim, sim. De fato,
eu encontrei Mark Lanegan ao lado do palco numa performance do Queens of the
Stone Age há um tempo atrás. Eu comecei a falar com ele – eu nem mesmo sabia que
era com ele que eu estava falando. Foi realmente engraçado. Eu me senti muito
rude e ignorante, mas ele tem uma voz muito bonita. Eu amo que ele... está
trabalhando na música porque ele precisa e não pode se ajudar. Isto realmente me atrai.
D: Provavelmente é por isso que eu falei dele. Vocês dois me
lembram de um ao outro em termos de como vocês lidam com suas carreiras. Pessoalmente, eu poderia ver uma colaboração
incrível em algum momento. Mas ouça Jack, vou indo e vejo você quando estiver
aqui em Seattle.
J: Foi ótimo falar com
você, Duff. Eu ouvi muito sua música quando eu era mais jovem, e falando nisso,
foi e é uma grande influência para mim. Obrigado
por tudo, eu aprecio isso.
D: Obrigado Jack. Cara, eu curto o que você está
fazendo, eu realmente gosto disto. Este novo álbum é realmente ótimo e autêntico
e eu aprecio ter trechos de músicas autênticas aqui e ali. É uma coisa rara nos
dias de hoje. Então, obrigado.
Originalmente
publicado em 07 de agosto de 2012: http://blogs.seattleweekly.com/reverb/2012/08/duff_mckagan_jack_white.php