Duff Mckagan - Seattle Weekly 01/03/12
Traduzido por: Rafael Vieri
Contadores de histórias militares e o porquê de eu não conseguir ignorá-los
A coluna de hoje é dedicada a memória de Lynn D. " Buck" Compton. A primeira vez que ouvi falar de Buck e suas estratégias militares foi ao ler "Brand of Brothers", de Stephen Ambrose.
Buck Compton morreu essa semana, aos 90 anos de idade, em sua casa em Burlington-Washington.
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Se você, assim como eu, era um pirralho durante a guerra do Vietnam, então, talvez também tenha aquelas imagens em preto e branco gravadas na retina. Desde que era criança, talvez por culpa dessas imagens, assuntos referentes a guerra sempre chamam a minha atenção.
Nos dias de hoje, a guerra e a violência estão banalizadas pelos noticiários, sendo exploradas 24 horas por dia e eu receio que nos tornemos "indiferentes" as atrocidades da guerra. Esse tipo de coisa acontece. É como um boxeador que se acostuma a levar socos na cabeça; eles simplesmente não se importam mais pois se acostumaram.
Crescer durante a guerra do Vietnam era estar exposto a primeira guerra a ser transmitida pela TV. Todas as noites as 6 da tarde, nos reunimos em volta da TV para ver as notícias que Walter Cronkite tinha para nós. "O que será que aconteceu hoje por lá?"
Ter dois irmãos participando da guerra também contribuiu para que eu me mantesse ligado na guerra. Eu lembro de ter perguntado para minha mãe o porque do meu irmão, Mark, ser obrigado a ir a guerra e a resposta que ela me deu ainda se mantem a mais pura verdade nos dias de hoje. Ela me disse : " dois homens que deveriam ser lideres parecem não conseguir concordar em algo, então eles reunem todos os seus jovens para que esses resolvam suas diferenças em um grande campo... usando armas e bombas."
Todos esses acontecimentos da minha juventude fizeram com que eu me tornasse, por assim dizem, um estudioso sobre a guerra, tanto as históricas quanto as do presente.
Eu acabei de terminar de ler o ultimo livro de Sebastian Junger " Guerra", uma experiência por escrito do tempo em que ele passou em uma base militar (Restrepo) no Afeganistão. Se você ainda não viu o documentário Restrepo feito por Junger em conjunto com o foto-jornalista Tim Hetherington, devia faze-lo com urgência ( se você não se importa com a verdade nua e crua e o sentimento conflitante entre a futilidade x orgulho). Enquanto o documentário simplesmente narra uma história, o livro tenta preencher as lacúnas deixadas pela história, tais como os resquicicios psicológicos, e como o tempo fora da base e a perda de amigos os afetam.
Junger se tornou um grande escritor, tanto no campo da pesquisa ( perfect Storm, A death in Belmont), quanto em sua primeira tentativa em falar sobre a guerra.
E o livro " guerra", não é menos primoroso por ser a primeira tentativa. Mostra,logo no inicio, como é a sensação de estar na linha de frente aos 19 anos de idade sem nenhum tipo de afeição disponível, exceto a que vem de seus amigos soldados. Junger até opina que uma arma, perigo e violência conseguem até substituir o sexo no campo de batalha, e quando os conflitos entre adversários dão tregua, é substituido pela agressão entre os companheiros de pelotão.
A linha entre combatente e jornalista parece ter se tornado mais estreita com a criação das IEDs ( bombas caseiras postas fora do campo de batalha). Enquanto um os jornalistas que ficam em lugares seguros fazendo seus comentários populistas cheios de interesses, um jornalista na linha de frente como Junger parece ter uma diretriz em seus comentários muito mais humana do que política.O lema parece ser: sobreviva hoje e escreva a verdade sem falar mal do trabalho daqueles que o protegeram durante o dia."
Junger fez um grande trabalho. Não se mostrou nem a favor nem contra a guerra, apenas fez relatos dia-a-dia sobre a vida de jovens expostos a um perigo extremo.
"Infiel" livro de Tim Hetherington, é o acompanhamento perfeito para o livro "guerra", contribuindo para que tudo ficasse ainda mais perto da realidade por ter sido lançado justamente quando o próprio Heitherington foi morto enquanto cobria os conflitos na libia.
O assunto guerra pode ser velho, entediante, violento ou repetitivo para algumas pessoas. Mas, para mim, sempre foi viciante olhar a história da humanidade de forma mais atenta e abrangente.