quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Turnês pela América do Sul têm evoluído consideravelmente, mas os fãs ainda continuam incríveis.


Quando deixei todos vocês na última semana, eu estava subindo a bordo de um avião que faria uma série de voos partindo de Londres, Inglaterra e me deixando em Santiago, Chile.
Na verdade acho que as 13 horas de voo entre Madrid até Santiago foi o meu primeiro real descanso que eu tive nessas 2 últimas semanas. Eu dormi cerca de 9 horas durante o voo. Acordei descansado, com o avião já pousando no Chile. Nem doeu, quando eu acordei sabendo que eu passaria algumas horas com motocicletas Harley-Davidson com meu bom amigo Sean Kinney (do Alice in Chains). Nossas bandas tocariam juntas nos dias seguintes, e antes de deixarmos a Inglaterra, planejamos fazer alguma coisa nos dias de folga em Santiago.
Como é verão no hemisfério Sul, Sean e eu decidimos relembrar a época de verão em Seattle onde nós fazíamos isto: andar de moto.
O transito em Santiago não é brincadeira. Motoristas – principalmente motoristas de ônibus – possuem sua própria visão do que é rápido ou lento pra dirigir ou quando se pode trocar de faixas. É o caos controlado na melhor das opções, e estar em uma motocicleta neste circo irá chamar muita atenção. Mas assim que deixamos a cidade e subimos até as montanhas, tornou-se claro como a cidade e todo seu contorno são belos. Foi bom, bom dia para estar vivo.
Alice in Chains não haviam retornado a América do Sul nenhuma vez desde sua primeira visita em 1993, quando eles excursionaram com o Nirvana. As lembranças de Sean sobre esta área parece ter sido escurecida pelo tempo. Sim. A memória pode f*der com a pessoa, e dar falsos avisos de lugares ou situações. Sean estava nervoso em retornar a América do Sul. Eu entendo. Eu já passei por isso.
De volta ao anos 80, quando comecei pela primeira vez a excursionar com uma banda de rock, fazer shows pela América do Sul era um tanto quanto exótico, e realmente um lugar desaprovado e superficial para tentar e marcar shows. Eles tinham equipamentos lá? Eram locais seguros que não entrariam em colapso a 120 decibéis? E quanto a estabilidade política e corrupção policial censurando bandas de rock como nós?
O Queen foi realmente a primeira grande banda de rock que teve peito em descer e fazer show no Brasil e na Argentina, e eles se tornaram uma entidade querida PORQUE eles foram lá e fizeram. Eu apenas poderia imaginar as histórias dos caras sobreviventes da banda, contando sobre aquela primeira vez na América do Sul.
Eu escrevi sobre a primeira vez que fui no Rio de Janeiro com o GN’R (primeiro Rock in Rio). Era como um lugar deslocado pra ir, e nenhum de nós tinha idéia de quão longe ou perto o Rio de Janeiro estava de Los Angeles. Parecia como um tiro no escuro... “Talvez seja umas 6 horas de voo”, eu me lembro, de alguma forma, o meu pensamento na época.
Apenas 20 anos depois, viagens de avião a longa distãncia se tornaram algo que muitos de nós já fizemos ao menos uma vez. E também na era da Internet, o mundo se tornou muito menor do que era tempos atrás.
Fãs brasileiros, argentinos e chilenos… fãs sul-americanos e da América Central no geral, tinham sidos privados de músicas de rock ao vivo. Quando uma banda finalmente resolveu aparecer, eles puderam experimentar aquilo que nós agora chamamos de Beatlemania: os moradores de lá perdiam a cabeça, perseguiam a banda em van, ônibus, carros, ou o que quer que seja. (Se você já viu o documentário dos Ramones, quando eles estão na van no aeroporto de São Paulo... com medo da morte... então você tem uma ideia).
Mas tudo é diferente. Muitas bandas de rock estão vindo pra cá agora, e no avião eu mesmo encontrei com membros do Faith No More, Alice in Chains, Black Rebel Motorcycle Club, Megadeth e Down, viajando todos juntos de Santiago para São Paulo, e me ocorre agora que TODO MUNDO está vindo aqui para fazer shows.
E o público amadureceu também. Onde antes era uma espécie de Beatlemania (como descrevi acima), a base de fãs no geral agora são simplesmente espertos, leais e apaixonados. Lealdade e paixão são grandes atributos por aqui.
Festivais são um grande negócio na América do Sul também. O SWU Festival em São Paulo tem o tema de auto-sustentabilidade (Starts With U – Começa com Você), e o público e vendedores fizeram o possível para aderir a uma espécie de programa de energia limpa. Sustentabilidade parece ser mais pesada no Brasil, como todos nós estamos conscientes sobre o que ocorre com a floresta tropical brasileira. E realmente parecia que havia uma energia real, dado pelo fato de que 80 mil pessoas presentes estavam fazendo tudo o que podiam fazer para não deixar uma pegada de carbono durante os 3 dias de festival.
Agora estou sentado no camarim de uma casa de eventos em Porto Alegre, Brasil. Eu agora sou capaz de ir a lugares onde jamais estive antes. Este país parece estar prosperando, e há um enorme ar de positividade por esses lados. Estou feliz por estar junto, de andar sobre a crista da onda, mesmo que seja por um dia ou mais, a cada poucos anos. Meu único desejo era... que minha família estivesse comigo.




Originalmente publicado em 17 de novembro de 2011: http://blogs.seattleweekly.com/reverb/2011/11/touring_south_america_has_evol.php

 
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