‘IT’S SO EASY – AND OTHER LIES’ será lançado no dia 4 de Outubro próximo pela editora estadunidense Touchstone. Não há previsão para o lançamento da obra em português.
O que segue abaixo é a tradução do trecho que a própria editora disponibilizou para divulgação, traduzido para maior entendimento do público.
“NOTA DO AUTOR:
Meus amigos e velhos colegas de banda podem lembrar-se de algumas das histórias que eu relato de modo diferente do que faço, mas eu descobri que todas as histórias têm muitos lados. Essas são minhas histórias. Estas são minhas perspectivas. Essa é a minha verdade.
PRÓLOGO:
DJ Morty está atrás de uma meda no quintal. Os anêmicos últimos raios de sol de um fim de tarde na Califórnia se alongam sobre as telhas da casa de um andar que eu divido com minha esposa, Susan, e nossas duas filhas, Grace e Mae. Na frente da mesa do DJ está uma pequena armação de placas de madeira polida – uma pista de dança portátil que nós alugamos junto com algumas mesas e cadeiras.
Morty dá uma passada nas músicas em seu laptop, brinca com seu console de MP3 e checa de novo os cabos conectando tudo isso ao amplificador a às caixas de som. Ele está se preparando para a festa. Eu encontrei Morty algumas vezes em outros eventos pela cidade; eu por muitas vezes acabo me sentindo como o trouxa de meia-idade nesses eventos moderninhos, e algumas vezes o mais confortável de se fazer é conversar sobre música com o DJ.
Hoje, entretanto, enquanto a tarde vira noite em Los Angeles, eu estou ainda mais deslocado do que de costume. Senão, menos bem-vindo. Grace está completando treze anos hoje e estamos dando uma festa. Grace já disse a mim e a mãe dela para ficarmos completamente invisíveis. As palavras exatas dela: “Vocês não estão convidados.”
Ah, as alegrias da paternidade.
Ainda assim, Susan e eu corremos atrás de preparar a festa. Aniversários nessa idade são muito importantes. Eu me lembro de quando completar dezoito anos era considerado um marco, mas até naquela idade minha festa limitou-se a alguns poucos amigos e familiares. Parcialmente devido a diferenças sócio-econômicas entre minha infância e a de minhas filhas. Hoje em dia nós moramos em uma área muito mais seleta do que a na qual cresci. Quando você pode gastar mais, você faz mais, e os garotos numa vizinhança como essa desenvolvem algumas expectativas. Então além do DJ, há uma cabine de fotos, e um salão de tatuagens de henna.
Outra razão pela qual nos esforçamos tanto é que suspeitamos que essa poderia ser a última vez que Grace, a mais velha de nossas duas filhas, irá querer comemorar em casa. Ah, bem.
Planejar essa festa foi desafiador por vezes. Quando eu liguei pra empresa de aluguel de cabines de fotos, a primeira pergunta que me fizeram foi, “Qual vai ser o tema do papel fotográfico?”
Huh?
“Sim, a máquina cospe tiras – quatro fotos tamanho passaporte em cada tira. Você pode ter algo escrito na lateral.”
Eu pensei rápido. As tiras de fotos de passaporte terão ‘Festa de 13 Anos de Grace’ escrito nelas.
Agora o dia da festa chegou e eu estou me certificando de que tudo está pronto.
A mulher do salão de tatuagens de henna abriu o catálogo de amostras dela e está sentada confortavelmente em uma cadeira. Eu levo um copo de água pra ela. Eu olho famintamente pra mesa de comida, onde os preparativos de um delicioso banquete mexicano estão sendo feitos. O serviço de buffet está até fazendo tortilhas, do zero, com uma chaleira de óleo. Também há um bar de sorvete. Eu amo sorvete. Essa vai ser uma baita festa.
DJ Morty coloca ‘Controversy’ do Prince e coloca o volume no máximo. Eu grito para Susan. Quando ela se junta a mim no quintal, eu a arrasto pra pista de dança e começamos a sacolejar. Fato pouco sabido sobre os membros originais do Guns N’ Roses: nós dançamos. Todo mundo conhece o passo de serpentina de Axl, claro. Muito menos pessoas sabem que Slash é um dançarino cossaco russo de nível mundial. E eu, bem…
“Pai!” Grace grita.
Eu paro no meio de um passo e me viro para olhar pra ela.
“As pessoas vão começar a chegar a qualquer minuto!”
Ela está mortificada. Desde agora.
Sim, sim, sim, eu Possi lidar com isso. Ela só está amadurecendo.
Enquanto os amigos de Grace começam a chegar, Grace mais uma vez deixa claro que ela nos proibiu de sair pro quintal durante a festa. Aparentemente pais são um embaraço nessa idade. Que seja. Olhando pela porta dos fundos à medida que a festa engrena, eu vejo pequenos grupos de garotos e garotas conversando, sorrindo e rindo timidamente. Alguns desses garotos estão começando a parecer adultos – um dos meninos é quase da minha altura.
Uma hora ou mais depois eu estou pensando se eu deveria realmente levar um copo de água pro cara tomando conta da cabine de fotos e ver como está tudo indo para a artesã de tatuagens de henna e me certificar de que todo mundo está se comportando. Eu sou responsável por esses garotos, afinal de contas. Porra, o DJ é um amigo meu, então eu tenho que visitá-lo um pouco. E bem, a comida parece muito boa também, e eu deveria fazer um prato para Susan. E enquanto eu faço isso, posso pegar um pra mim.
Eu não estou xeretando, digo pra mim mesmo enquanto empurro a porta dos fundos e saio. De modo algum. Estou apenas sendo um pai responsável. Sim.
Será que eu pego sorvete agora, ou volto pra pegar mais tarde?
No que eu viro num canto escondido da casa eu paro, duro: um menino e uma menina estão se beijando.
Ah merda.
Eu congelo, sem certeza do que dizer ou fazer.
Eu não estava esperando isso.
A minha mente lê uma lista de coisas que eu nem me dava conta que tivesse na cabeça. É uma lista de coisas que eu estava fazendo nessa mesma idade – e ela vira duas, incluindo uma lista de coisas que um pai como eu não quer um grupo de garotos sob minha tutela fazendo no meu quintal.
Eles estão bebendo?
Não.
Fumando maconha?
Não.
Tomando ácido?
Não.
Eu comecei a fumar maconha bem jovem: na quarta série, pra ser exato. Eu tomei meu primeiro trago na quinta série e provei LSD pela primeira vez na sexta série quando eu pinguei ácido na boca, dado por um cara da oitava série a caminho da Eckstein Middle School em Seattle. No Noroeste, cogumelos cresciam em todo canto – em canteiros de estacionamento e nos quintais de pessoas em praticamente todo lugar. Na sétima série, eu era um entendido em diferenciar cogumelos alucinógenos dos que não te davam barato. Eu cheirei cocaína pela primeira vez na sétima série também. Eu também provei codeína, metaqualona, e Valium no ensino médio. Não havia um estigma pesado ligado ao uso de drogas por crianças nos anos 70, e não haviam avisos gritando por todo canto sobre os perigos.
Daí eu me liguei em música. O começo do movimento punk rock em Seattle foi bem minúsculo, então todos nós conhecíamos uns aos outros e tocávamos nas bandas uns dos outros. Eu só tinha catorze anos quando comecei a tocar bateria, baixo e guitarra em várias bandas, e saí em turnê com os Fastbacks num período quando outros garotos em minha sala de aula estavam comendo algodão doce e sonhando com o dia no qual eles teriam idade suficiente para tirar carteira de motorista. Eu continuei a beber uma tonelada de cerveja e a experimentar com LSD, cogumelos, e cocaína.
Esses garotos estão tomando cogumelos?
Não.
Cocaína?
Não.
Então, em algum ponto de 1982, enquanto a cena musical tornava-se maior e uma recessão se abateu sobre Seattle, todos nós notamos uma enorme incidência de heroína e pílulas. O vício de repente explodiu dentro do meu círculo de amigos, e morte por overdose se tornou quase lugar-comum.
Eu testemunhei minha primeira overdose quando eu tinha dezoito anos. Eu vi meu primeiro amor se afundar na heroína e uma de minhas bandas implodir por causa dela. Quando eu completei vinte e três anos, dois de meus melhores amigos tinham morrido de overdose de heroína.
Heroína?
Não.
Graças a Deus.
Esses garotos não estão usando drogas ou bebendo. Nenhum perfume dando bandeira ou pupilas dilatadas aqui.
Minha mente percorre todas as outras atividades nas quais eu já tinha me engajado na idade de Grace.
Meus melhores amigos e eu começamos a roubar carros no ginásio. Roubo de carros levou a arrombamentos. Eu me lembro de invadir uma igreja uma noite na esperança de descolar alguns microfones para a minha banda. Minha coragem líquida naquela idade não tinha conseqüência. Quando eu não achei nenhum microfone, eu afanei os cálices da comunhão para usar como taças pros meus coquetéis. Esse crime apareceu nos jornais.
Alguns desses garotos está roubando carros?
Não.
Eu vi todos esses garotos chegarem. Os pais deles os trouxeram. Nenhum deles veio sozinho.
Ah Deus e quanto a….?
Eu fui apresentado ao sexo na nona série. A garota era mais velha – eu estava tocando música no meio de um grupo de pessoas mais velhas. O lance com aquela primeira vez, contudo, é que eu peguei uma doença venérea. Claro, eu não podia simplesmente chegar na minha mãe aos treze anos e anunciar que havia algo de errado com meu pênis. Para minha sorte, alguém desse grupo de pessoas mais velhas me levou a uma clínica gratuita administrada por freiras católicas. A experiência não teve nada de legal. Não. Me assustou pra cacete. Ainda assim, depois de uma dose de três dias de antibióticos genéricos, eu estava livre da gonorréia.
Mas estes garotos não estão fazendo sexo. Na verdade, as mãos deles nem estão se mexendo. Não, esses garotos estão apenas se beijando.
Sexo?
Não.
Esse devaneio – a leitura da minha lista mental – demora menos de cinco segundos, mas o garoto e a garota pararam de se beijar e agora estão parados, paralisados, seus ombros arqueados contra seus ombros como se para agüentar o pito que eles esperam que caia sobre eles.
Eu respiro fundo.
“Desculpem,” eu digo.
Eu aceno com a cabeça e rapidamente volto pra dentro da casa.”(…)
Fonte: